sábado, 23 de maio de 2009

A chave


"Tantas informações, tantas inovações, descobertas, moretes, vidas, conquistas, fracassos. Um mar de novidades e acontecimentos longínquos. Provavelmente nenhum deles fará surgir efeito algum em mim. Quem sabe cada acontecimento me influencie de alguma maneira. Um oceano de possibilidades.


A imensidão. Tudo é imenso. O céu, o tempo, o destino, as dúvidas. Tudo torna o ser minúsculo em suas ansiedades, medos, tristezas, sonhos abafados e desejos de sobrevivência. Uma alma infinitesimal ante uma criação gigantesca. Oito milhões e quatrocentas formas específicas de buscar felicidade, e todas escorrem entre os dedos surrados.


Prazer, prazer, prazer. É a felicidade que procuro. Mas quem sou eu? Por que insisto em buscar algo que sei que, com as mãos do tempo infalível, torna-se amargo, desgostoso. E daí uma nova busca. Após a queda, um levantar. Sempre me levanto. Por quê?


Não sei quem sou. Não sei o que sou. Não sei o que é o mundo. Não entendo o motivo de existir, o motivo desta criação existir, de existência alguma. Minha razão se esforça por encontrar lógicas conclusões para as questões, mas o mais lógico é não ter respota a isto tudo. Se Deus existe, Ele está muito além do que esta razão poderia especular.


Assim, a tendência de ser reduzida da alma se engrandece, se apodera. Sobra apenas um ponto, menor que a décima milésima parte da ponta de um fio de cabelo. Este sou eu. Este sou eu. Como um ponto consegue ser tão imenso em dúvidas? Quanto mais se busca as respostas, mais dúvidas surgem. É antagônico. É o processo singular da perplexidade da existência. Faz-nos crer que não é buscar estas respostas que nos fará completos. O que seria o certo?


Certo seria nascer sabendo. saberia o que fazer, assim como os pássaros o sabem, ou os insetos solitários o fazem. Nascem, crescem, se reproduzem, definham, morrem. Comem, defendem-se, dormem e se acasalam. Porém, mesmo assim, para quem nasce, a morte é certa. Mesmo para os que nascem sabendo. Tudo que nasce, morre. Assim, não basta nascer sabendo. Mais é necessário, mais.


Navegar é preciso. Viver... impreciso, desnecessário. Aceitar o caminho, deixar fluir, observar o que acontece ao redor, não querer ser outra coisa, não se deixar ser levado pela maré, compreender o instinto. Existe ainda uma fagulha instintiva que revela. Parece que há uma voz que, quando penso que que sou destinado a tornar-me um minúsculo grão de areia na imensidão da praia, grita-me ao coração: "Acorda! Desperta! Levanta!", e, surpreendentemente, levanto. Novamente sem saber para onde ir, mas levanto. Retorna todas as sensações de necessidade de busca.


Novamente vivo, brilho, sinto-me crescer com diversas novidades, novos conhecimentos. Às vezes até a sensação de orgulho e soberbia surge, tanto é a possibilidade de crescer. Mas quanto mais alto esta falsa concepção, maior é a queda. Sempre volto ao chão, à terra. Novamente retorno às dúvidas. Não haverá um manual de instrução? E se houver, vou querer perder de me aventurar neste oceano das possibilidades?


Quanto menor se é, maior as chances de descobrir novas coisas. O instinto aventuresco anima o ser, as possibilidades instigam a alma a navegar este oceano. Sem medo, o fim já está traçado. O importante é "como" vou chegar até lá. Não apenas choramingando pelos cantos, imerso em dúvidas sem sair do lugar. Se existe este mundo disponível à mim, á ele irei! Se for para encontrar algo, algo encontrarei caso procure!


Livre de letargia as coisas tornam-se mais interessantes. A intuição tinha razão. Estar de pé, lutar para alcançar algo, para depois encontrar algo mais para buscar - assim vive-se, enreda-se. Assim sou. Torno-me um ser quando descubro desejos, gostos, interesses pessoais, individuais. Torno-me maior quando expando esta consciência para quem está ao meu redor. Cresço quando expando para até aqueles que não conheço. Maior sou quando expando para todos os seres! Maior ainda, pois, por que não encontrar algo para todo o Universo! Sou o Universo em constante expansão, com um desejo em comum: SER!


Um desejo em comum... existe um desejo em comum. Existe. Aquela "voz interna" (psicótico agora?!?!) insiste em dizer. A pedra mais preciosa, o tesouro mais escondido, o mais secreto de todos os segredos. É a busca minunciosa de algo que pode estar escondido na mais minúscula alma. Talvez em todas elas. Todas elas escondem pedaços, fragmentos do tesouro mais valioso. Caso seja todos eles, incluo-me neste ciclo de escondimento.


Onde está? Onde ele está? Onde está este tesouro que vim procurando minha vida toda? Minhas vidas todas! São várias vidas numa só, o que dizer de outras vidas, caso haja!! Onde está este segredo? Em pensar que a resposta estava comigo o tempo todo... mas onde está? Sou tão pequeno, como posso esconder algo tão valioso?


Sozinho não tenho acesso a mim mesmo. Ainda falta-me recursos para abrir meu coração-baú. Como pude fechar tão bem isto? Onde coloquei a chave? Por que diabos escondi isto de mim mesmo? Claro, para viver! Fiz para mim mesmo um grande jogo, uma grande peça, uma grande aventura! Agora estou aqui, eu, de frente para mim mesmo, o grande manipulador de mim sou eu próprio! O que venho escondendo? Por que venho escondendo isto tudo de mim?


Por imotivada misericórdia, por muitas atividades meritórias talvez, ou não, vejo alguém com o coração aberto. Mas é tão luminoso que não consigo ver o que há dentro de seu baú. Pergunto como foi que ele abriu, e ele, sem medo de perder seu tesouro, revela. É tçao simples que não dá pra acreditar. Como crer que posso esconder Deus de mim mesmo?! O Ser de todos os seres, o maior dos maiores, a causa de todas as causas, voluntariamente trancafiado num pequeno coração, ainda assim, sempre dando as coordenadas para que este jogo pudesse ser jogado, para que enfim pudéssemos voltar a ter a "eterna aventura" com Ele.. É um absurdo que isto tenha sido feito. É um absurdo que até isto possa ser feito, porém agora não mais importa.


Deram-me a chave de meu coração. É a chave mestra, que abre todos os outros baús. Esta chave foi copiada e muitos outros estão buscando pessoas dispostas a abrirem seus corações. Estou no processo de abrir o meu. Você, quer abrir o seu também?"